Difference between revisions of "Does the proverb about the jealous husband show that prostitution is legal? (Prov. 6:32-35)/pt"

From Theonomy Wiki
(Created page with "==Introdução== ")
(Created page with "Neste provérbio, não é claro que a frase "dia de vingança" equivale à caracterização do Dr. Boot: "acusação pela pena de morte". Parece mais provável que o provérbi...")
 
(31 intermediate revisions by the same user not shown)
Line 2: Line 2:
 
<div class="questionbody">
 
<div class="questionbody">
 
==Introdução==
 
==Introdução==
In Biblical law, it is clear that victims of a property crime, or of certain types of negligent or intentional bodily harm (''talion'' offenses), are given the option to forgive or accept monetary compensation. On the other hand, with regard to certain "high-handed" crimes (such as murder, adultery, rape, kidnapping, etc.) there is only one civil penalty given as an option: death. The laws for these crimes use either a Hebrew pleonasm (''mot yumot'') which is normally translated as "he shall surely die," or they use other scriptural motive clauses (e.g. "purge out [בָּעַר (ba`ar)] the evil from among you") to show that the penalty is mandatory.
+
No direito bíblico, é claro que as vítimas de um crime patrimonial, ou de certos tipos de danos corporais negligentes ou intencionais (''talião'' infracções), têm a opção de perdoar ou aceitar uma compensação monetária. Por outro lado, no que diz respeito a certos delitos "de mão-dura" (tais como homicídio, adultério, violação, rapto, etc.), só existe uma única pena civil dada como opção: a morte. As leis para estes crimes usam ou um pleonasmo hebraico (''mot yumot'') que é normalmente traduzido como "certamente morrerá", ou usam outras cláusulas de motivação bíblica (por exemplo, "purge out [בָּעַר (ba`ar)] o mal de entre vós") para mostrar que a pena é obrigatória.
  
Nevertheless, certain interpreters have proposed reasons why we should not understand these scriptural phrases as referring to mandatory death. One of these proposals ("Victim's Rights") asserts that the (human) victims of these serious crimes (e.g. adultery, rape, kidnapping, false witness in a death penalty case) had the authority both to pardon the criminal and to accept monetary ransom in lieu of the death penalty.
+
No entanto, certos intérpretes propuseram razões pelas quais não devemos entender estas frases bíblicas como referindo-se à morte obrigatória. Uma destas propostas ("Direitos da Vítima") afirma que as vítimas (humanas) destes crimes graves (por exemplo, adultério, violação, rapto, falso testemunho num caso de pena de morte) tinham a autoridade tanto para perdoar o criminoso como para aceitar um resgate monetário em vez da pena de morte.
  
==Monetary "ransom" for adultery?==
+
=="Resgate" monetário por adultério?==
  
Let's look at an example of this argument "in the wild". Dr. Joseph Boot, in his book ''The Mission of God'', wrote:
+
Vejamos um exemplo deste argumento em uso recente. O Dr. Joseph Boot, no seu livro ''A Missão de Deus'', escreveu:
  
{{:Quote|[I]t seems to also be clear that the victims of crime had a say in how the offender was to be punished. The law of retaliation did not always obligate the victim to press for maximum charges or the ultimate penalty .... Interestingly, Proverbs, a practical application of the law, warns the would be adulterer than an angry husband is unlikely to be in the mood to come to terms and accept financial compensation for this violation of his family’s sanctity; he may will prosecute for the death penalty (Prov. 6:32-35).<ref>Joe Boot, ''The Mission of God'', 316-317</ref>}}
+
{{:Quote|Parece também ser claro que as vítimas do crime tinham uma palavra a dizer sobre a forma como o infractor devia ser punido. A lei da retaliação nem sempre obrigava a vítima a apresentar queixa máxima ou a pena final .... Curiosamente, Provérbios, uma aplicação prática da lei, adverte que seria mais adúltero do que um marido zangado é pouco provável que esteja disposto a aceitar uma compensação financeira por esta violação da santidade da sua família; ele poderá processar pela pena de morte (Prov. 6:32-35).<ref>Joe Boot, ''A Missão de Deus'', 316-317</ref>}}
  
Dr. Boot is claiming that Proverbs 6:32-35 is "a practical application of [Biblical] law", which implies that a husband victimized by adultery has the right to accept "ransom." Is this interpretation of this Proverb justified?
+
O Dr. Boot afirma que Provérbios 6:32-35 é "uma aplicação prática da lei [bíblica]", o que implica que um marido vitimado por adultério tem o direito de aceitar "um resgate". Esta interpretação do Provérbio é justificada?
  
The way Dr. Boot paraphrases this proverb (he did not quote it in his book), it sounds as though it is saying the following (presented in simple terms):
+
A forma como o Dr. Boot parafraseia este provérbio (não o citou no seu livro), soa como se dissesse o seguinte (apresentado em termos simples)
  
{{:Quote|If a man commits adultery, the victimized husband is not likely to accept money as compensation; instead, he will choose to take the adulterer to a judge and prosecute, with the expectation of getting a death penalty.}}
+
{{:Quote|Se um homem comete adultério, é pouco provável que o marido vitimizado aceite dinheiro como compensação; em vez disso, optará por levar o adúltero a um juiz e acusá-lo, com a expectativa de obter uma pena de morte.}}
  
==The structured argument==
+
==O argumento estruturado==
  
So the argument, the way Dr. Boot seems to be framing it, might be something like:
+
Portanto, o argumento, a forma como o Dr. Boot parece estar a enquadrá-lo, pode ser algo parecido:
  
#Proverbs describes two options available to a husband who is a victim of adultery:
+
#Proverbs descreve duas opções disponíveis para um marido que é vítima de adultério:
##prosecuting a case of adultery with the expectation of a death penalty.
+
##prosecutar um caso de adultério com a expectativa de uma pena de morte.
##choosing not to prosecute, in return for accepting a monetary payment from the adulterous man.
+
##escolher não processar, em troca de aceitar um pagamento monetário do homem adúltero.
#Because this proverb describes both of these options, it must mean that both of these options are lawful for the husband.
+
##Porque este provérbio descreve ambas as opções, deve significar que ambas as opções são legais para o marido.
#Therefore, it is Biblically lawful for a husband to accept money in return for someone adulterously sleeping with his wife.
+
#Por isso, é biblicamente lícito que um marido aceite dinheiro em troca de alguém adúltero que dorme com a sua mulher.
  
Evaluating this argument, I think I would start by criticizing the second premise. We could state this as a generic premise like:
+
Avaliando este argumento, penso que começaria por criticar a segunda premissa. Poderíamos afirmar isto como uma premissa genérica:
  
{{:Quote|Because Proverbs describes a course of action, it entails the normative legality of that course of action.}}
+
{{:Quote|Porque Provérbios descreve uma linha de acção, implica a legalidade normativa dessa linha de acção.}}
  
==Does Proverbs always give us normative law?==
+
==Será que os Provérbios nos dão sempre o direito normativo?==
  
I do not believe that the above statement is true. And I think this is clear, even from the immediate context. Look at the previous proverb:
+
Não acredito que a afirmação acima seja verdadeira. E penso que isto é claro, mesmo a partir do contexto imediato. Veja-se o provérbio anterior:
  
 
{{:Scriptblock|Proverbs 6:30-31}}
 
{{:Scriptblock|Proverbs 6:30-31}}
  
The above statement does not correspond to God's law on theft, in which restitution is never more than fivefold (Ex. 22:1). "Sevenfold" is sometimes interpreted symbolically as "the full amount of restitution," but this interpretation seems unlikely when set in parallel with the phrase "all the goods of his house." Someone merely stealing food to satisfy their hunger<ref>In fact, in an Israelite community which was following Biblical law, the poor could (in a time of harvest) glean on the edges of fields/orchards.</ref> would, according to Biblical law, be required to repay only two-fold. If they stole a loaf of bread, they would have to repay two loaves (or an equivalent, agreed upon amount of indentured work for the victim). But two-fold restitution for stealing food does not seem to correspond to the value of "all the goods" of someone who owns a house.
+
A afirmação acima não corresponde à lei de Deus sobre roubo, em que a restituição nunca é mais do que cinco vezes (Ex. 22:1). "Sete vezes" é por vezes interpretado simbolicamente como "o montante total da restituição", mas esta interpretação parece improvável quando estabelecida em paralelo com a frase "todos os bens da sua casa". Alguém meramente a roubar comida para satisfazer a sua fome<ref>De facto, numa comunidade israelita que seguia a lei bíblica, os pobres podiam (numa época de colheita) colher nas margens dos campos/orquídeas.</ref> seria, de acordo com a lei bíblica, obrigado a reembolsar apenas duas vezes. Se roubassem um pão, teriam de reembolsar dois pães (ou um equivalente, acordado na quantidade de trabalho indentado para a vítima). Mas a restituição dupla por roubo de alimentos não parece corresponder ao valor de "todos os bens" de alguém que possui uma casa.
  
However, this proverb could be understood as giving an accurate prediction about what judges who have ignored God's law might demand. In fact, this failure to accurately follow Biblical law was probably the case, descriptively, during much of Israel's history. There were only (relatively) short periods in which Israel conformed to Biblical law. We should understand this proverb as being descriptive, not normative.
+
Contudo, este provérbio poderia ser entendido como dando uma previsão precisa sobre o que os juízes que ignoraram a lei de Deus poderiam exigir. De facto, esta falha em seguir com precisão a lei bíblica foi provavelmente o caso, descritivamente, durante grande parte da história de Israel. Houve apenas períodos (relativamente) curtos em que Israel se conformou à lei bíblica. Devemos entender este provérbio como sendo descritivo, não normativo.
  
==What is this proverb actually saying?==
+
==O que é que este provérbio está realmente a dizer?==
  
I also want to examine how Dr. Boot paraphrases this proverb, by actually quoting the proverb:
+
Também quero examinar como o Dr. Boot parafraseia este provérbio, citando de facto o provérbio:
  
 
{{:Scriptblock|Proverbs 6:32-35}}
 
{{:Scriptblock|Proverbs 6:32-35}}
  
The first question I want to ask is about that scriptural phrase "day of vengeance" (which is a literal English rendering from the Hebrew). The immediate context talks about "wounds and disgrace" being the result of this act of adultery. Waltke writes:
+
A primeira pergunta que quero fazer é sobre a frase bíblica "dia de vingança" (que é uma interpretação literal inglesa do hebraico). O contexto imediato fala de "feridas e vergonha" como sendo o resultado deste acto de adultério. Waltke escreve:
  
{{:Quote|Strokes (<em>nega‛</em>) refers to a violent assault that inflicts pain on the recipient; it may be inflicted by other humans (Deut. 17:8; 21:5; 2 Sam. 7:14), by God (cf. Exod. 11:2), or by disease (many times in Leviticus 13-14). In the latter two cases, it is sometimes glossed by “plague.” Shame (or opprobrium, <em>qālôn</em>; see 3:35) rules out any possibility of a martyr’s honor. The “strokes” and “shame” are felt as a hendiadys (i.e., “strokes that bring shame”).<ref>Waltke, ''The Book of Proverbs, Chapters 1-15''</ref>}}
+
{{:Quote|Traços (<em>nega‛</em>) refere-se a uma agressão violenta que inflige dor ao receptor; pode ser infligida por outros humanos (Dt. 17:8; 21:5; 2 Sam. 7:14), por Deus (cf. Exod. 11:2), ou por doença (muitas vezes em Levítico 13-14). Nos dois últimos casos, é por vezes lustrado pela "peste". A vergonha (ou opprobrium, <em>qālôn</em>; ver 3:35) exclui qualquer possibilidade da honra de um mártir. Os "traços" e "vergonha" são sentidos como uma hendiadys (ou seja, "traços que trazem vergonha").<ref>Waltke, ''The Book of Proverbs, Capítulos 1-15''</ref>}}
  
It seems likely that the verse is warning about the victimized husband either:
+
Parece provável que o verso esteja a avisar sobre o marido vitimizado que faz uma das seguintes coisas:
  
#taking his own vengeance upon the adulterous man, by inflicting personal injury and public reproach. In fact the ESV seems to take this understanding when it translates the verse: "he will not spare when he takes revenge."
+
# tomando a sua própria vingança sobre o homem adúltero, infligindo danos pessoais e reprovação pública. De facto, o ESV parece aceitar este entendimento quando traduz o verso: "ele não poupará quando se vingar".
#taking the adulterer before a foreign (non-Israelite) court.
+
# levando o adúltero perante um tribunal estrangeiro (não israelita).
  
Waltke writes:
+
Waltke escreve:
  
{{:Quote|Perhaps a pagan court and a public flogging are in view. Had he committed adultery with a true daughter of Israel, not a foreign woman, the death sentence would have been exacted (see 5:14; cf. Lev. 20:10; Deut. 22:22; Ezek. 23:45-47).<ref>Waltke, ''The Book of Proverbs, Chapters 1-15''</ref>}}
+
{{:Quote|Talvez esteja em vista um tribunal pagão e uma flagelação pública. Se tivesse cometido adultério com uma verdadeira filha de Israel, não uma mulher estrangeira, a sentença de morte teria sido exacta (ver 5:14; cf. Lev. 20:10; Dt. 22:22; Ez. 23:45-47).<ref>Waltke, ''O Livro de Provérbios, Capítulos 1-15''</ref>}}
  
In this proverb, it is not clear that the phrase "day of vengeance" equates with Dr. Boot's characterization: "prosecution for the death penalty." It seems more likely that the proverb is referring to the victimized husband -- extra-judicially -- inflicting "wounds and disgrace" upon the adulterer, and refusing to minimize the crime by accepting "many gifts." Waltke discusses the "gifts" reference:
+
Neste provérbio, não é claro que a frase "dia de vingança" equivale à caracterização do Dr. Boot: "acusação pela pena de morte". Parece mais provável que o provérbio se refira ao marido vitimado - extrajudicialmente - infligindo "feridas e vergonha" ao adúltero, e recusando-se a minimizar o crime aceitando "muitos presentes". Waltke discute a referência aos "dons":
  
{{:Quote|Bribe (<em>šōḥad</em>) refers to a gift, usually monetary to pervert justice, and was forbidden by the Mosaic law (Exod. 23:8; Deut. 10:17; 16:19; 27:25; Prov. 17:8, 23; 21:14).<ref>Waltke, ''The Book of Proverbs, Chapters 1-15''</ref>}}
+
{{:Quote|Suborno (<em>šōḥad</em>) refere-se a um presente, geralmente monetário para perverter a justiça, e foi proibido pela lei mosaica (Exod. 23:8; Deut. 10:17; 16:19; 27:25; Prov. 17:8, 23; 21:14).<ref>Waltke, ''O Livro de Provérbios, Capítulos 1-15''</ref>}}
  
In conclusion, there is no reason to treat this Proverbs 6:32-35 as overturning the mandatory death penalty for the crime of adultery or legalizing prostitution.
+
Em conclusão, não há razão para tratar este Provérbios 6:32-35 como a revogação da pena de morte obrigatória para o crime de adultério ou a legalização da prostituição.
 
</div>
 
</div>
  
Line 72: Line 72:
 
{{:Translink|Does Joseph's intent to divorce Mary show that the death penalty for adultery was not mandatory?}}
 
{{:Translink|Does Joseph's intent to divorce Mary show that the death penalty for adultery was not mandatory?}}
  
{{DISPLAYTITLE:{{PAGENAME}}}}
+
{{DISPLAYTITLE:Será que o provérbio sobre o marido ciumento mostra que a prostituição é legal? (Prov. 6:32-35)}}
  
 
[[Category:Adultery]]
 
[[Category:Adultery]]

Latest revision as of 13:38, 25 November 2020

Other languages:
Deutsch • ‎English • ‎español • ‎français • ‎italiano • ‎português • ‎русский

Perguntas respondidas

Introdução

No direito bíblico, é claro que as vítimas de um crime patrimonial, ou de certos tipos de danos corporais negligentes ou intencionais (talião infracções), têm a opção de perdoar ou aceitar uma compensação monetária. Por outro lado, no que diz respeito a certos delitos "de mão-dura" (tais como homicídio, adultério, violação, rapto, etc.), só existe uma única pena civil dada como opção: a morte. As leis para estes crimes usam ou um pleonasmo hebraico (mot yumot) que é normalmente traduzido como "certamente morrerá", ou usam outras cláusulas de motivação bíblica (por exemplo, "purge out [בָּעַר (ba`ar)] o mal de entre vós") para mostrar que a pena é obrigatória.

No entanto, certos intérpretes propuseram razões pelas quais não devemos entender estas frases bíblicas como referindo-se à morte obrigatória. Uma destas propostas ("Direitos da Vítima") afirma que as vítimas (humanas) destes crimes graves (por exemplo, adultério, violação, rapto, falso testemunho num caso de pena de morte) tinham a autoridade tanto para perdoar o criminoso como para aceitar um resgate monetário em vez da pena de morte.

"Resgate" monetário por adultério?

Vejamos um exemplo deste argumento em uso recente. O Dr. Joseph Boot, no seu livro A Missão de Deus, escreveu:

Parece também ser claro que as vítimas do crime tinham uma palavra a dizer sobre a forma como o infractor devia ser punido. A lei da retaliação nem sempre obrigava a vítima a apresentar queixa máxima ou a pena final .... Curiosamente, Provérbios, uma aplicação prática da lei, adverte que seria mais adúltero do que um marido zangado é pouco provável que esteja disposto a aceitar uma compensação financeira por esta violação da santidade da sua família; ele poderá processar pela pena de morte (Prov. 6:32-35).[1]

O Dr. Boot afirma que Provérbios 6:32-35 é "uma aplicação prática da lei [bíblica]", o que implica que um marido vitimado por adultério tem o direito de aceitar "um resgate". Esta interpretação do Provérbio é justificada?

A forma como o Dr. Boot parafraseia este provérbio (não o citou no seu livro), soa como se dissesse o seguinte (apresentado em termos simples)

Se um homem comete adultério, é pouco provável que o marido vitimizado aceite dinheiro como compensação; em vez disso, optará por levar o adúltero a um juiz e acusá-lo, com a expectativa de obter uma pena de morte.

O argumento estruturado

Portanto, o argumento, a forma como o Dr. Boot parece estar a enquadrá-lo, pode ser algo parecido:

  1. Proverbs descreve duas opções disponíveis para um marido que é vítima de adultério:
    1. prosecutar um caso de adultério com a expectativa de uma pena de morte.
    2. escolher não processar, em troca de aceitar um pagamento monetário do homem adúltero.
    3. Porque este provérbio descreve ambas as opções, deve significar que ambas as opções são legais para o marido.
  2. Por isso, é biblicamente lícito que um marido aceite dinheiro em troca de alguém adúltero que dorme com a sua mulher.

Avaliando este argumento, penso que começaria por criticar a segunda premissa. Poderíamos afirmar isto como uma premissa genérica:

Porque Provérbios descreve uma linha de acção, implica a legalidade normativa dessa linha de acção.

Será que os Provérbios nos dão sempre o direito normativo?

Não acredito que a afirmação acima seja verdadeira. E penso que isto é claro, mesmo a partir do contexto imediato. Veja-se o provérbio anterior:

30 Men don’t despise a thief if he steals to satisfy himself when he is hungry, 31 but if he is found, he shall restore seven times. He shall give all the wealth of his house. Proverbs 6:30-31WEB

A afirmação acima não corresponde à lei de Deus sobre roubo, em que a restituição nunca é mais do que cinco vezes (Ex. 22:1). "Sete vezes" é por vezes interpretado simbolicamente como "o montante total da restituição", mas esta interpretação parece improvável quando estabelecida em paralelo com a frase "todos os bens da sua casa". Alguém meramente a roubar comida para satisfazer a sua fome[2] seria, de acordo com a lei bíblica, obrigado a reembolsar apenas duas vezes. Se roubassem um pão, teriam de reembolsar dois pães (ou um equivalente, acordado na quantidade de trabalho indentado para a vítima). Mas a restituição dupla por roubo de alimentos não parece corresponder ao valor de "todos os bens" de alguém que possui uma casa.

Contudo, este provérbio poderia ser entendido como dando uma previsão precisa sobre o que os juízes que ignoraram a lei de Deus poderiam exigir. De facto, esta falha em seguir com precisão a lei bíblica foi provavelmente o caso, descritivamente, durante grande parte da história de Israel. Houve apenas períodos (relativamente) curtos em que Israel se conformou à lei bíblica. Devemos entender este provérbio como sendo descritivo, não normativo.

O que é que este provérbio está realmente a dizer?

Também quero examinar como o Dr. Boot parafraseia este provérbio, citando de facto o provérbio:

32 He who commits adultery with a woman is void of understanding. He who does it destroys his own soul. 33 He will get wounds and dishonor. His reproach will not be wiped away. 34 For jealousy arouses the fury of the husband. He won’t spare in the day of vengeance. 35 He won’t regard any ransom, neither will he rest content, though you give many gifts. Proverbs 6:32-35WEB

A primeira pergunta que quero fazer é sobre a frase bíblica "dia de vingança" (que é uma interpretação literal inglesa do hebraico). O contexto imediato fala de "feridas e vergonha" como sendo o resultado deste acto de adultério. Waltke escreve:

Traços (nega‛) refere-se a uma agressão violenta que inflige dor ao receptor; pode ser infligida por outros humanos (Dt. 17:8; 21:5; 2 Sam. 7:14), por Deus (cf. Exod. 11:2), ou por doença (muitas vezes em Levítico 13-14). Nos dois últimos casos, é por vezes lustrado pela "peste". A vergonha (ou opprobrium, qālôn; ver 3:35) exclui qualquer possibilidade da honra de um mártir. Os "traços" e "vergonha" são sentidos como uma hendiadys (ou seja, "traços que trazem vergonha").[3]

Parece provável que o verso esteja a avisar sobre o marido vitimizado que faz uma das seguintes coisas:

  1. tomando a sua própria vingança sobre o homem adúltero, infligindo danos pessoais e reprovação pública. De facto, o ESV parece aceitar este entendimento quando traduz o verso: "ele não poupará quando se vingar".
  2. levando o adúltero perante um tribunal estrangeiro (não israelita).

Waltke escreve:

Talvez esteja em vista um tribunal pagão e uma flagelação pública. Se tivesse cometido adultério com uma verdadeira filha de Israel, não uma mulher estrangeira, a sentença de morte teria sido exacta (ver 5:14; cf. Lev. 20:10; Dt. 22:22; Ez. 23:45-47).[4]

Neste provérbio, não é claro que a frase "dia de vingança" equivale à caracterização do Dr. Boot: "acusação pela pena de morte". Parece mais provável que o provérbio se refira ao marido vitimado - extrajudicialmente - infligindo "feridas e vergonha" ao adúltero, e recusando-se a minimizar o crime aceitando "muitos presentes". Waltke discute a referência aos "dons":

Suborno (šōḥad) refere-se a um presente, geralmente monetário para perverter a justiça, e foi proibido pela lei mosaica (Exod. 23:8; Deut. 10:17; 16:19; 27:25; Prov. 17:8, 23; 21:14).[5]

Em conclusão, não há razão para tratar este Provérbios 6:32-35 como a revogação da pena de morte obrigatória para o crime de adultério ou a legalização da prostituição.

Veja também:

Does Joseph's intent to divorce Mary show that the death penalty for adultery was not mandatory?

  1. Joe Boot, A Missão de Deus, 316-317
  2. De facto, numa comunidade israelita que seguia a lei bíblica, os pobres podiam (numa época de colheita) colher nas margens dos campos/orquídeas.
  3. Waltke, The Book of Proverbs, Capítulos 1-15
  4. Waltke, O Livro de Provérbios, Capítulos 1-15
  5. Waltke, O Livro de Provérbios, Capítulos 1-15